terça-feira, 4 de agosto de 2015

E-BOOKS - As cidades invisíveis - Ítalo Calvino

  • As cidades invisíveis - Ítalo Calvino
  • Resenha:
O viajante veneziano Marco Polo descreve para o imperador Kublai Khan as cidades que visitara. O desejo de Khan é montar o império perfeito a partir dos relatos que ouve. São lugares imaginários, sempre com nomes de mulheres: Pentesileia, Cecília, Leônia. Os relatos curtos são agrupados por blocos: as cidades e a memória, as cidades delgadas, as cidades e as trocas, as cidades e os mortos, as cidades e o céu.
Síntese
No século 13, após uma viagem que teria durado 30 meses, o mercador veneziano Marco Polo chegou às portas do Extremo Oriente e conheceu a capital do imenso império de Kublai Khan: Cambaluc, atual Pequim. Lá o jovem Marco permaneceu por 17 anos, desempenhando importantes funções diplomáticas na corte do Grande Khan. Isso é o que está registrado nos compêndios de história.

  • Em "As Cidades Invisíveis" (1972), Italo Calvino extrapola os fatos possíveis e imagina um diálogo fantástico entre "o maior viajante de todos os tempos" e o famoso imperador dos tártaros. Melancólico por não poder ver com os próprios olhos toda a extensão dos seus domínios, Kublai Khan faz de Marco Polo o seu telescópio, o instrumento que irá franquear-lhe as maravilhas de seu império.
Polo então começa a descrever minuciosamente 55 cidades por onde teria passado, agrupadas numa série de 11 temas: "as cidades e a memória", "as cidades e o céu", "as cidades e o mortos" etc. As visões, projetadas numa rigorosa arte combinatória, bebem de muitas fontes, desde as "Mil e Uma Noites" até as megalópoles que vemos no cinema. O resultado é um livro extraordinário e indefinível.
Em nenhuma outra obra Italo Calvino levou tão longe os valores que considerava fundamentais à sobrevivência da "espécie literária": leveza, rapidez, exatidão, visibilidade, multiplicidade e consistência. O leitor verá que é impossível não se perder nessas cidades, como é impossível não se enredar nessas teias de palavras.

  • As Cidades Invisíveis
O livro de Ítalo Calvino, As Cidades Invisíveis, apresenta as descrições das cidades que o viajante Marco Polo ilustrou ao imperador Kublai Khan. Com as histórias do viajante, Khan tinha o objetivo de montar um império baseado nos relatos sobre como eram os locais. Marco Polo descreve cidades imaginárias, que sempre levam nomes de mulheres como: Leônia, Cecília, Pentesileia. Em sua maioria, são relatos curtos e divididos entre os tópicos: as cidades delgadas, as cidades e a memória, as cidades e as trocas, as cidades e o céu e as cidades e os mortos.
A história do livro acontece durante o século 13, quando o descobridor veneziano Marco Polo chega ao império de Kublai Khan após uma viagem de aproximados 30 dias. Naquelas terras, o protagonista do livro passa 17 anos, onde desempenha funções de diplomata na corte de Khan.
As Cidades Invisíveis foi publicado em 1972, quando o autor tinha 49 anos de idade. Na época, o Realismo Mágico, que foi uma forte influência de Calvino, estava em alta na América Latina. O escritor extrapola a realidade e cria um diálogo fantástico entre o imperador dos tártaros (Kublai Khan) e Marco Polo, conhecido por ser o maior viajante de todos os tempos. Khan, ao perceber a impossibilidade de conhecer seus domínios por inteiro, utiliza os olhos de Marco Polo para enxergar suas terras e se satisfazer com as descrições.
Desta forma, Marco Polo inicia uma descrição detalhada das 55 cidades pelas quais teria passado. Essas terras são apresentadas divididas em 11 temas: "as cidades e a memória", "as cidades e o céu", "as cidades e o mortos" , entre outros.
De acordo com alguns críticos literários, Calvino utiliza diversos recursos em suas descrições, abrangendo influências que vão desde o livro das “Mil e Uma Noites”, chegando às megalópoles cinematográficas. Ítalo apresenta a beleza das cidades, descrevendo-as de forma consistente, visível, exata, rápida e leve. Com isso, dá a oportunidade dos leitores se perderem por estes locais, formados por teias de palavras e elucubrações fantásticas do escritor.
Sobre o escritor
Ítalo Calvino nasceu em Santiago de las Vegas (Cuba) no dia 15 de outubro do ano de 1923, tendo falecido em Siena no dia 19 de setembro de 1985. Calvino foi considerado um dos mais influentes autores da Itália no século XX. Apesar de ter nascido em Cuba, sua família retornou à Itália pouco tempo depois de Ítalo ter nascido.
O escritor formou-se no curso de Letras e fez parte da resistência antifascismo na época da Segunda Guerra Mundial. Além disso, fez parte do Partido Comunista da Itália até o ano de 1956. Um ano depois, desvincula-se do partido, deixando uma carta que ficou famosa.
Cidades invisíveis visitadas. Uma leitura de Ítalo Calvino para compreender a paisagem urbana
O Cidades invisíveis tem sido utilizado, mundo afora, não apenas como uma obra literária profunda e inspiradora, mas também como substrato para reflexões e pesquisas do fenômeno urbano, e, ainda, como ponto de partida didático para ensinar os alunos de arquitetura a olhar e a pensar sobre a cidade. Seduzidos pelo texto, amadurece neles a compreensão de que, diante dela, estão diante de algo muito mais complexo do que o projeto de um edifício, e de que o universo urbano se estende muito além até mesmo do que o “urbanismo” possa abarcar. A primeira lição é, portanto, sem dúvida, a de que o urbano é feito de uma matéria não manipulável, rebelde, caprichosa, mas nem por isso menos fascinante. A segunda lição, descoberta à medida que Marco Pólo segue descrevendo as cidades do império mongol, é de que cada cidade é única na sua paisagem e na construção do seu espaço pelos seus habitantes, e que o número de possíveis cidades é infinito. Salta-lhes tanto aos olhos a riqueza de cidades da qual se compõe a narrativa que quase escapa a terceira lição, de que Eudóxia, Zirma, Leônia e tantas outras são na verdade arquétipos: Dimensões ou imagens que servem a todas e a uma única cidade ao mesmo tempo, sem que por isso não deixem de servir como elementos diferenciadores que tornam, paradoxalmente, cada cidade, única.
Embora as cinquenta e cinco cidades do livro gerem uma incontável multiplicidade de imagens e simbolismos, nesse ponto é o próprio Calvino que nos revela a chave para entendê-las e até, classificá-las. Mesmo tendo sido apresentadas “embaralhadas” na narrativa, cada uma pertence a um dos onze grupos de cinco cidades que recebem uma adjetivação comum do tipo: “as cidades e a memória”, “as cidades ocultas”, etc. E como a maior parte das mensagens no texto, a ligação entre as cinco cidades de cada grupo é tênue, quase que apenas sussurrada em algumas características comuns. Mesmo assim, para cada um dos onze grupos de cidades espalhadas pelo livro há uma questão central que liga e permeia a descrição das cidades de cada grupo, e há, ao mesmo tempo, uma senda individual para cada cidade, que é a forma como ela lida com aquela questão.

  • Os onze “tipos” de Cidades invisíveis
  • 1. “As cidades e o nome” – identidade e sentido de lugar
“As Cidades e o Nome” remete à clássica afirmação de Aldo Rossi de que o sentido do lugar emana do acontecimento e do signo que o fixou. “Por longo tempo, Pirra foi para mim uma cidade encastelada nas encostas de um golfo, com amplas janelas e torres, fechada como uma taça, com uma praça em seu centro profunda como um poço e com um poço em seu centro” (p.87). Em Aglaura, essa identidade é definida pelo “estilo de vida” ou “estado de espírito” dos habitantes; Leandra optapelo intimismo e pelo provincianismo da vida privada, pela negação à grande cidade; Irene fabrica uma imagem forjada para a cidade e a usa para convencer os cidadãos e o resto do mundo do seu papel; já Clarisse procura compreender e incorporar a multiplicidade de lugares como o verdadeiro sentido de lugar.
  • 2. “As cidades e a memória” – a presença do sítio e a influência do passado
Em cada grupo de cidades costuma haver um “encantamento” e uma “armadilha”. No caso de “As Cidades e a Memória”, o encantamento prossegue no encontro com o passado como se ele fosse sempre melhor que o presente e uma inspiração para o futuro. A armadilha está na decepção de que o passado não permanece melhor ou nunca foi, e no seu esquecimento. Apresentadas quase todas na parte um do livro, é possível indagar se Diomira, Isidora, Zaíra, Zora e Maurília não estão assim situadas para que nos esqueçamos delas ao fim da narrativa.
  • 3. “As cidades e o desejo” – a motivação inconsciente e a ação sobre a memória
Nelas há uma alusão insistente à contradição, à dualidade do espírito humano. Intuitivamente somos destinados à ordem e ao caos simultaneamente, e as “cidades e o desejo” refletem o paradoxo em paisagens regulares como Dorotéia e Anastácia ou dúbias como Despina. Ou ainda múltiplas como Fedora, em que quase nos perdermos nos infinitos caminhos que geramos para cada uma de nossas escolhas.
  • 4. “As cidades e os símbolos” – a linguagem da subconsciência coletiva e a imagem da cidade
“Não existe linguagem sem engano.” é a frase final de Ítalo Calvino (p. 48) após ter descrito as desventuras de Marco em Ipásia, a quarta das “cidades e os símbolos”. Nelas discute-se a imagem da cidade formada não só pela composição de sólidos na luz e na sombra, mas também a partir da sua ornamentação, dos sinais e dos seus significados. Então a cidade passa a ser lida como densa e enigmática, já que é muito mais do que apenas sua forma física. É possível evocar, a partir delas, o clássico Imagem da cidade de Kevin Lynch, onde a questão central é a compreensão da cidade a partir do seu vocabulário visual, sua linguagem. Mas exploram também a utilização dos símbolos como marcação de territórios e hierarquias, classes, posturas ou ainda propositalmente como mensageiros do engodo. São, nesse sentido, cidades em que de alguma forma o discurso, ou os ícones, não correspondem às suas verdadeiras dinâmicas, ocultas ou dissimuladas.
  • 5. “As cidades delgadas” – a busca pelo desprender da terra, a negação da imobilidade
Calvino cita motivos diversos para que cada uma das “cidades delgadas” seja descolada da terra. A idéia geral é de paisagens urbanas que se projetam para cima, ou se isolam da terra firme por algum artifício geológico ou construído: Isaura está no chão mas na verdade sobre um profundo lago negro extinto; Zenóbia sobre palafitas em um lago seco; em Armila não há as massas construídas; Sofrônia são duas meias cidades em que a cidade pesada é itinerante e a cidade leve é fixa; e finalmente, Otávia uma cidade teia-de-aranha pendurada sobre o abismo.
Através das “cidades delgadas” é possível verter a muitas paisagens da cidade moderna, como a verticalidade ou a transfiguração cíclica de seus espaços. Também nelas talvez se incluísse o próprio urbanismo modernista, as imagens de uma cidade-máquina baseada no movimento, ou o espírito etéreo de uma Ville Radieuse. Ou ver as “cidades delgadas” como buscas coletivas, através da técnica, para transcender o peso da superfície do planeta, ou para abandonar uma paisagem urbana feita apenas de pedras.

  • 6. “As cidades e as trocas” – as relações entre os habitantes
Estas são como um preâmbulo das “Cidades Contínuas”. Nelas emerge a questão da circulação na cidade, com analogias com fios (Ercília) e redes (Esmeraldina) superpostas; e a própria mobilidade e mutabilidade urbanas, que lhe dão o caráter de um ser mutante, ainda que de pedra. “As cidades e as trocas” também abordam a tessitura do território, as camadas de atores no espaço urbano (Esmeraldina) e o embate entre rotina e mudança (Eutrópia).
  • 7. “As cidades e os olhos” – a visão individual e os engodos
Estas são exemplos dúbios, em que se discute o referencial do qual se olha a cidade. Em termos de paisagem, são cidades descritas com um lado positivo que enche os olhos, cheio de cores, sabores, tentações. Em Zemrude o enfoque são as visões particulares, e o autor sugere que a maioria dessas visões tende a buscar mais o chão e as profundezas do que o céu, com o passar do tempo. As cidades e os olhos parecem evocar análises mais contemporâneas dos fenômenos urbanos, como em “A Cidade de Quartzo” e sua descrição dos bastidores dos guetos e seus embates.
  • 8. “As cidades e os mortos” – engessamento, ciclo, fim de ciclo
Embora em algumas das “cidades e os mortos” sua paisagem seja mais literal, referindo-se a uma espécie de campo santo, ou um duplo, e muitas vezes desafiando as profundezas da terra, há uma questão que permeia todas. Aborda-se a idéia do ciclo como presença estruturadora, como um moto motiv do ser-cidade, para onde ele a leva, ou não leva... As “cidades e os mortos” evocam a temática dos filmes da trilogia “qatsi” (REGGIO, 1983), em que a questão principal passa a ser os ciclos “inescapáveis” do planeta e das nossas cidades civilizadas, e sobretudo a busca do sentido que os move.
  • 9. “As cidades ocultas” – a natureza humana e sua dualidade
São as cidades mais tardiamente apresentadas no livro, o que faz das “cidades ocultas” um espelhamento das “cidades e a memória”, quase todas apresentadas na primeira parte. São cidades tão complexas quanto à natureza humana, e necessariamente contraditórias. As cidades ocultas exploram essas contradições na forma de dualidades intrínsecas, como o dentro e o fora de Olinda, a cidade feliz e a infeliz de Raíssa, os ratos e as andorinhas de Marósia, os homens e as bestas de Teodora, e os injustos e os justos de Berenice.
  • 10. “As cidades contínuas” – antropofagia, destruição do meio
Em “as cidades contínuas” Calvino reúne os casos extremos de cidades: a metrópole, ou ainda, a sua aberração, a megalópole, e a possibilidade da humanidade ser um câncer assolando o planeta. São exemplos que aludem ao debate sobre as questões ambientais, mas também sobre o subúrbio e o planejamento regional. E de novo às utopias modernistas e às visões deformadas que delas restaram, no legado dos grandes conjuntos habitacionais.
  • 11. “As Cidades e o Céu” – o ideal de perfeição e o cosmos
Opondo-se às “cidades e os mortos”, cidades como Tecla e Ândria não são apenas as antíteses de sua paisagem, buscando elevar-se do solo e negando a terra. Também buscam a antítese do ciclo, na idéia de uma permanência transcendental. Sonhos de todos os utopistas desde os antigos até Ledoux e além dele. São descritas como lugares urbanos de paisagem harmônica, e, às vezes, imutável.
Mas sua presença no livro é fundamental. Em meio a tantas dimensões imperfeitas – e horripilantes – do urbano, as cidades e o céu trazem o fascínio do novo, das reformas e das ideias que se apresentam como eternamente belas – até que a realidade e o tempo as gaste – e retornemos aos inescapáveis ciclos. Cheios de visões, mas sem ilusões, somos (arquitetos/urbanistas) chamados a assumir nosso papel como uma pequena peça das Cidades invisíveis: a de projetar para elas olhando para o alto, para o projeto das estrelas.

  • Um diagrama para o Cidades invisíveis
O “Diagrama” – uma proposta de visualização “temática” dos onze grupos de cidades apresentados pelo livro “As Cidades Invisíveis”
Ilustração Evandro Ziggiatti Monteiro
Uma linha horizontal divide o gráfico em duas partes (“terra-céu”), ficando abaixo dele as cidades “ocultas”, “e os símbolos”, “e os nomes”, “e os mortos”. Os quatro grupos apresentam cidades em um certo sentido “perdidas”; perdidas no tempo, ou na memória, ou fisicamente enterradas no espaço. Ou ainda, incompreendidas ou incompreensíveis.
Além da divisão terra-céu, a disposição dos grupos de cidades sofre a influência de quatro vetores principais. No centro, atua uma quinta força, não como um vetor, mas uma inércia que tenta manter junto de si três grupos de cidades invisíveis: as “cidades ocultas” (abaixo do horizonte); as “cidades e a memória” e as “cidades e o desejo” (ambos os grupos acima do horizonte).

O primeiro vetor (das cidades “desperdiçadas”) aponta – através das “cidades e as trocas” – para as “cidades contínuas”, onde a matéria das cidades passa a ser um fim em si de sua existência, ao mesmo tempo a semente de sua natureza finita e portanto da sua destruição. O segundo vetor (das cidades “idealizadas”), aponta para “as cidades e os olhos”, idealização no sentido de “pontos de vista”, com espaço para a desilusão e o engodo. O terceiro (das “perdidas”) vetor passa pelas “cidades e os símbolos” e aponta para as “cidades e os mortos”. O quarto vetor aponta para cima, passando pelas leves “cidades delgadas” e culminando com “as cidades e o céu”, estas sim discutindo uma idealização no sentido de “plano” ou “modelo”. As “cidades e o céu” ousam buscar o sentido cósmico da perfeição, em paisagens urbanas tão harmônicas quanto do universo que as rodeia.
  • Obras do autor:
    A trilha dos ninhos de aranha
    O Barão nas Árvores
    Os Amores Difíceis
    O Caminho de San Giovanni
    O Castelo dos Destinos Cruzados
    O Cavaleiro Inexistente
    As Cidades Invisíveis
    As Cosmicômicas
    O Dia de um Escrutinador
    Fábulas Italianas
    Um General na Biblioteca
    Marcovaldo ou As Estações na Cidade
    Os Nossos Antepassados
    Palomar
    Perde Quem Fica Zangado Primeiro
    Porque Ler os Clássicos
    Seis Propostas para o Próximo Milênio - Lições Americanas
    Se um Viajante Numa Noite de Inverno
    Sob o Sol-jaguar
    O Visconde Partido ao Meio (1952)
    A Trilha dos Ninhos de Aranha

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