- As cidades invisíveis - Ítalo Calvino
- Resenha:
Síntese
No século 13, após uma viagem que teria durado 30 meses, o mercador veneziano Marco Polo chegou às portas do Extremo Oriente e conheceu a capital do imenso império de Kublai Khan: Cambaluc, atual Pequim. Lá o jovem Marco permaneceu por 17 anos, desempenhando importantes funções diplomáticas na corte do Grande Khan. Isso é o que está registrado nos compêndios de história.
- Em "As Cidades Invisíveis" (1972), Italo Calvino extrapola os fatos possíveis e imagina um diálogo fantástico entre "o maior viajante de todos os tempos" e o famoso imperador dos tártaros. Melancólico por não poder ver com os próprios olhos toda a extensão dos seus domínios, Kublai Khan faz de Marco Polo o seu telescópio, o instrumento que irá franquear-lhe as maravilhas de seu império.
Em nenhuma outra obra Italo Calvino levou tão longe os valores que considerava fundamentais à sobrevivência da "espécie literária": leveza, rapidez, exatidão, visibilidade, multiplicidade e consistência. O leitor verá que é impossível não se perder nessas cidades, como é impossível não se enredar nessas teias de palavras.
- As Cidades Invisíveis
A história do livro acontece durante o século 13, quando o descobridor veneziano Marco Polo chega ao império de Kublai Khan após uma viagem de aproximados 30 dias. Naquelas terras, o protagonista do livro passa 17 anos, onde desempenha funções de diplomata na corte de Khan.
As Cidades Invisíveis foi publicado em 1972, quando o autor tinha 49 anos de idade. Na época, o Realismo Mágico, que foi uma forte influência de Calvino, estava em alta na América Latina. O escritor extrapola a realidade e cria um diálogo fantástico entre o imperador dos tártaros (Kublai Khan) e Marco Polo, conhecido por ser o maior viajante de todos os tempos. Khan, ao perceber a impossibilidade de conhecer seus domínios por inteiro, utiliza os olhos de Marco Polo para enxergar suas terras e se satisfazer com as descrições.
Desta forma, Marco Polo inicia uma descrição detalhada das 55 cidades pelas quais teria passado. Essas terras são apresentadas divididas em 11 temas: "as cidades e a memória", "as cidades e o céu", "as cidades e o mortos" , entre outros.
De acordo com alguns críticos literários, Calvino utiliza diversos recursos em suas descrições, abrangendo influências que vão desde o livro das “Mil e Uma Noites”, chegando às megalópoles cinematográficas. Ítalo apresenta a beleza das cidades, descrevendo-as de forma consistente, visível, exata, rápida e leve. Com isso, dá a oportunidade dos leitores se perderem por estes locais, formados por teias de palavras e elucubrações fantásticas do escritor.
Sobre o escritor
Ítalo Calvino nasceu em Santiago de las Vegas (Cuba) no dia 15 de outubro do ano de 1923, tendo falecido em Siena no dia 19 de setembro de 1985. Calvino foi considerado um dos mais influentes autores da Itália no século XX. Apesar de ter nascido em Cuba, sua família retornou à Itália pouco tempo depois de Ítalo ter nascido.
O escritor formou-se no curso de Letras e fez parte da resistência antifascismo na época da Segunda Guerra Mundial. Além disso, fez parte do Partido Comunista da Itália até o ano de 1956. Um ano depois, desvincula-se do partido, deixando uma carta que ficou famosa.
Cidades invisíveis visitadas. Uma leitura de Ítalo Calvino para compreender a paisagem urbana
O Cidades invisíveis tem sido utilizado, mundo afora, não apenas como uma obra literária profunda e inspiradora, mas também como substrato para reflexões e pesquisas do fenômeno urbano, e, ainda, como ponto de partida didático para ensinar os alunos de arquitetura a olhar e a pensar sobre a cidade. Seduzidos pelo texto, amadurece neles a compreensão de que, diante dela, estão diante de algo muito mais complexo do que o projeto de um edifício, e de que o universo urbano se estende muito além até mesmo do que o “urbanismo” possa abarcar. A primeira lição é, portanto, sem dúvida, a de que o urbano é feito de uma matéria não manipulável, rebelde, caprichosa, mas nem por isso menos fascinante. A segunda lição, descoberta à medida que Marco Pólo segue descrevendo as cidades do império mongol, é de que cada cidade é única na sua paisagem e na construção do seu espaço pelos seus habitantes, e que o número de possíveis cidades é infinito. Salta-lhes tanto aos olhos a riqueza de cidades da qual se compõe a narrativa que quase escapa a terceira lição, de que Eudóxia, Zirma, Leônia e tantas outras são na verdade arquétipos: Dimensões ou imagens que servem a todas e a uma única cidade ao mesmo tempo, sem que por isso não deixem de servir como elementos diferenciadores que tornam, paradoxalmente, cada cidade, única.
Embora as cinquenta e cinco cidades do livro gerem uma incontável multiplicidade de imagens e simbolismos, nesse ponto é o próprio Calvino que nos revela a chave para entendê-las e até, classificá-las. Mesmo tendo sido apresentadas “embaralhadas” na narrativa, cada uma pertence a um dos onze grupos de cinco cidades que recebem uma adjetivação comum do tipo: “as cidades e a memória”, “as cidades ocultas”, etc. E como a maior parte das mensagens no texto, a ligação entre as cinco cidades de cada grupo é tênue, quase que apenas sussurrada em algumas características comuns. Mesmo assim, para cada um dos onze grupos de cidades espalhadas pelo livro há uma questão central que liga e permeia a descrição das cidades de cada grupo, e há, ao mesmo tempo, uma senda individual para cada cidade, que é a forma como ela lida com aquela questão.
- Os onze “tipos” de Cidades invisíveis
- 1. “As cidades e o nome” – identidade e sentido de lugar
- 2. “As cidades e a memória” – a presença do sítio e a influência do passado
- 3. “As cidades e o desejo” – a motivação inconsciente e a ação sobre a memória
- 4. “As cidades e os símbolos” – a linguagem da subconsciência coletiva e a imagem da cidade
- 5. “As cidades delgadas” – a busca pelo desprender da terra, a negação da imobilidade
Através das “cidades delgadas” é possível verter a muitas paisagens da cidade moderna, como a verticalidade ou a transfiguração cíclica de seus espaços. Também nelas talvez se incluísse o próprio urbanismo modernista, as imagens de uma cidade-máquina baseada no movimento, ou o espírito etéreo de uma Ville Radieuse. Ou ver as “cidades delgadas” como buscas coletivas, através da técnica, para transcender o peso da superfície do planeta, ou para abandonar uma paisagem urbana feita apenas de pedras.
- 6. “As cidades e as trocas” – as relações entre os habitantes
- 7. “As cidades e os olhos” – a visão individual e os engodos
- 8. “As cidades e os mortos” – engessamento, ciclo, fim de ciclo
- 9. “As cidades ocultas” – a natureza humana e sua dualidade
- 10. “As cidades contínuas” – antropofagia, destruição do meio
- 11. “As Cidades e o Céu” – o ideal de perfeição e o cosmos
Mas sua presença no livro é fundamental. Em meio a tantas dimensões imperfeitas – e horripilantes – do urbano, as cidades e o céu trazem o fascínio do novo, das reformas e das ideias que se apresentam como eternamente belas – até que a realidade e o tempo as gaste – e retornemos aos inescapáveis ciclos. Cheios de visões, mas sem ilusões, somos (arquitetos/urbanistas) chamados a assumir nosso papel como uma pequena peça das Cidades invisíveis: a de projetar para elas olhando para o alto, para o projeto das estrelas.
- Um diagrama para o Cidades invisíveis
Ilustração Evandro Ziggiatti Monteiro
Uma linha horizontal divide o gráfico em duas partes (“terra-céu”), ficando abaixo dele as cidades “ocultas”, “e os símbolos”, “e os nomes”, “e os mortos”. Os quatro grupos apresentam cidades em um certo sentido “perdidas”; perdidas no tempo, ou na memória, ou fisicamente enterradas no espaço. Ou ainda, incompreendidas ou incompreensíveis.
Além da divisão terra-céu, a disposição dos grupos de cidades sofre a influência de quatro vetores principais. No centro, atua uma quinta força, não como um vetor, mas uma inércia que tenta manter junto de si três grupos de cidades invisíveis: as “cidades ocultas” (abaixo do horizonte); as “cidades e a memória” e as “cidades e o desejo” (ambos os grupos acima do horizonte).
O primeiro vetor (das cidades “desperdiçadas”) aponta – através das “cidades e as trocas” – para as “cidades contínuas”, onde a matéria das cidades passa a ser um fim em si de sua existência, ao mesmo tempo a semente de sua natureza finita e portanto da sua destruição. O segundo vetor (das cidades “idealizadas”), aponta para “as cidades e os olhos”, idealização no sentido de “pontos de vista”, com espaço para a desilusão e o engodo. O terceiro (das “perdidas”) vetor passa pelas “cidades e os símbolos” e aponta para as “cidades e os mortos”. O quarto vetor aponta para cima, passando pelas leves “cidades delgadas” e culminando com “as cidades e o céu”, estas sim discutindo uma idealização no sentido de “plano” ou “modelo”. As “cidades e o céu” ousam buscar o sentido cósmico da perfeição, em paisagens urbanas tão harmônicas quanto do universo que as rodeia.
- Obras do autor:
A trilha dos ninhos de aranha
O Barão nas Árvores
Os Amores Difíceis
O Caminho de San Giovanni
O Castelo dos Destinos Cruzados
O Cavaleiro Inexistente
As Cidades Invisíveis
As Cosmicômicas
O Dia de um Escrutinador
Fábulas Italianas
Um General na Biblioteca
Marcovaldo ou As Estações na Cidade
Os Nossos Antepassados
Palomar
Perde Quem Fica Zangado Primeiro
Porque Ler os Clássicos
Seis Propostas para o Próximo Milênio - Lições Americanas
Se um Viajante Numa Noite de Inverno
Sob o Sol-jaguar
O Visconde Partido ao Meio (1952)
A Trilha dos Ninhos de Aranha
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